segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

1º dia: o início da aventura

Prévias

28 de janeiro de 2012.
Abri os olhos tomados pela ansiedade e mal acreditava que naquele dia daria início à aventura no Monte Roraima. Levantei e tomei aquele que seria meu último “banho normal”, e conforme combinado no dia anterior, fui ao encontro do Rowling, na agência, para irmos até a Aduana.

Imaginei que, pela tranquilidade dele, deveria ter algum esquema para não enfrentarmos a espera que meus colegas brasileiros haviam enfrentado no dia anterior. Quando chegamos, por sinal, a fila de pessoas aguardando por um carimbo de entrada já estava configurada em um tamanho considerável, que certamente atrapalharia os planos, caso tivéssemos que cartesianamente segui-la.

Na verdade, quando chegamos, por volta das 7h30, o atendimento não havia nem começado. O tempo avançou, e passados 30 minutos do horário em que deveria ter iniciado (8 horas), nada havia acontecido. Enquanto isso a fila avançava, inclusive com pessoas de outras agências que também já estavam nas prévias de suas respectivas aventuras.

Nesse período também conversei um pouco mais com o Rowling, que me contou exercer o ofício de guia há mais de 20 anos. A Kamadac pertencia a ele e ao Andreas, com quem eu vinha trocando os e-mails antes da viagem, um alemão que mora em Caracas e que no momento estava atuando basicamente na comunicação com interessados em viajar pela agência, em virtude de estar em processo de tratamento de saúde.

Sobre Chávez, Rowling foi categórico ao afirmar que seu governo vinha acabando com o turismo na Venezuela nos últimos anos. Contou-me também sobre suas experiências como guia na Costa Rica, segundo ele um país bastante desenvolvido, inclusive na educação, e onde é possível fazer muitas coisas, com um pouco de desenvoltura e um inglês fluente.

Foi quando apareceu, a atravessar a rua, uma mulher de semblante tranquilo e na faixa dos seus 50 anos, a quem Rowling imediatamente se direcionou. Depois de trocar algumas palavras, seguimos atrás dela e adentramos a porta da repartição – confesso até que com um certo receio de sermos xingados pelo pessoal da fila. Mas, enfim, por incrível que pareça, estavam tão indignados com a situação de espera que sequer repararam em nossa presença.

De toda forma, não demoramos mais que uns cinco minutos no prédio. A mulher nos conduziu a uma sala e retirou de sua mesa o tal carimbo, com o qual marcou meu passaporte. Em seguida anotou meus dados em um livro, e pronto: estava eu quite com a burocracia venezuelana, pronta para iniciar minha aventura.

Antes de ir para a agência, ainda fomos até uma mercearia comprar sacos plásticos para embalar as coisas dentro da mochila. Foi uma orientação que o Rowling havia dado no dia anterior, para proteger ao máximo as coisas em caso de chuva. Comprei então um saco grande para forrar a mochila por dentro e vários sacos pequenos, para proteger a documentação, celular e máquina fotográfica. Meu receio era de que o saco ocupasse mais espaço na mochila e não coubesse tudo, mas com um pouquinho de jeito deu pra apertar.

Na agência já estavam os demais do grupo e os carros que nos levariam até o ponto de partida. Foi o tempo de acertar com o Rowling o passeio para Salto Angel, que faria depois do Monte Roraima, terminar de embalar minhas coisas, pegar um sanduíche em uma lanchonete próxima e em seguida entregar a mochila ao motorista do carro, para que ele a ajeitasse na caçamba.


A caminho do ponto de partida

À Primeira Vista

O carro foi adentrando a estrada de terra, e depois de passarmos por uma paisagem onde sempre avistávamos tepuis – aquelas formações rochosas em formato de mesa, incluindo o próprio Monte Roraima -, logo chegamos a uma pequena aldeia de onde se dá início à caminhada. Lá recebemos o nosso primeiro almoço – um sanduíche de queijo e tomate e um suco – e fizemos os últimos ajustes nas mochilas, os alongamentos necessários, os registros fotográficos.



Também tivemos o primeiro contato com os carregadores que nos acompanhariam durante a viagem, levando nossa alimentação, as barracas e outros utensílios necessários, inclusive o banheiro portátil do qual falarei adiante. Um deles foi um simpático senhor chamado Florêncio, que se destacou durante a viagem por ser o que mais interagia conosco.

É um dos momentos mais emocionantes chegar àquele local, de onde você avista o monte em toda a sua majestade, e se dá conta de que em poucos dias irá vê-lo não apenas como um gigante virtual na tela de um computador, mas poderá sentir-se parte dele, tocando-o, sentindo seus aromas e captando as nuances de sua natureza selvagem.


E feita a foto do grupo, demos início à caminhada!

domingo, 20 de janeiro de 2013

Venezuela, aí vou eu!!!

A viagem a Pacaraima, que custou R$25, foi tranquila e até conversei bastante durante parte do trajeto com o motorista, um goiano que havia adotado Roraima como lar há mais de 20 anos. Mas me impressionou muito o mau estado de conservação da estrada, repleta de buracos, os quais só mesmo um motorista experiente teria uma boa habilidade para driblar.


O sol a se despedir na fronteira - Pacaraima-RR


Ao chegar a Pacaraima, após aproximadamente 2 horas e meia, fui direto à Polícia Federal carimbar meu passaporte. Em seguida, troquei R$12 por BSF90 (câmbio a BSF 7,6 para R$1) e peguei o táxi-lotação rumo a Santa Elena, que custou BSF 30.


Ultrapassando a fronteira

A viagem durou uns 20 minutos, e ao chegar fui direto para a agência Kamadac. Fui recebida por um dos seus sócios, Rowling, um homem de meia idade e fisionomia indígena. Ele me explicou que haveria um briefing sobre a viagem às 19h, e me atentou para o fuso diferenciado da Venezuela, onde eu teria que descontar da minha programação cronológica mais meia hora, para além das duas horas já retiradas em Boa Vista. Um fuso imaginário, que existe tão somente em terras venezuelanas, só poderia mesmo ser invenção do Sr. Chávez... hehehe

Para mim não soou nada mal ganhar mais alguns minutos, e como ainda tinha um tempo até a hora do briefing, aproveitei para deixar minhas coisas e tomar um banho no hotel que eu havia pedido à agência para reservar por aquela noite.

Primeira Hospedagem Venezuelana: Hotel Michelle

O Hotel Michelle ficava bem em frente à agência e eu havia visto muitas recomendações no Mochileiros, que ressaltavam bastante o valor. De fato era um hotel bastante barato (o equivalente a R$15 a diária, sem café da manhã), mas sinceramente não curti nem um pouquinho o quarto. Posso até estar exagerando, mas ao abrir a porta me senti dentro da cela de um presídio. O quarto era pequeno e abafado, e a única janela dava para um corredor por onde transitavam outros hóspedes, então não tinha como mantê-la aberta.

A toalha também não me pareceu muito confiável no quesito limpeza, e acabei me enxugando com papel higiênico mesmo. O banheiro até que era limpo, mas qual não foi minha surpresa quando, no meio do banho, a água do chuveiro começou a ficar escassa a ponto de se tornar apenas um fiozinho, com o qual tive que me esforçar para tirar os últimos resquícios de sabão? Afff Maria!!!

Conhecendo os Companheiros de Viagem

Às 19 horas desci para participar do briefing sobre a viagem, na agência. Lá conheci meus colegas de excursão: um animado grupo de oito cariocas (três casais e duas meninas amigas do grupo) e dois alemães que estavam sozinhos como eu. Um deles – o George – já havia morado em Belém (PA) e sabia falar português, é fã de gafieira e mora em Genebra.

Durante o briefing me dei conta de que havia deixado de carimbar meu passaporte na Aduana da Venezuela, ao entrar em Santa Elena. O Rowling me orientou então a chegar mais cedo à agência no dia seguinte (o pessoal chegaria às 9h30, e eu teria que chegar às 7h), pois ele me acompanharia até lá. Os colegas cariocas me contaram que a Aduana venezuelana era extremamente desorganizada, os caras faziam tudo à mão, e que haviam passado aproximadamente 4 horas para ter um simples carimbo de entrada no país. Acabaram me tranquilizando, pois me disseram que haviam chegado bem mais cedo, e pelo horário em que eu passei por lá, provavelmente não teria conseguido o tal carimbo, de qualquer forma.

Feitas as combinações, após um dedo de prosa fui jantar com eles em um restaurante próximo. Lá comecei a me enturmar com o grupo, e como havia uma outra Juliana, que para completar as coincidências também tinha sobrenome Santana, tratamos de achar um apelido diferente do tradicional “Ju” que pudesse nos distinguir. Então me lembrei do meu amigo Rutônio, que costuma me chamar de Nana, por conta da filha dele que também se chama Juliana e que ele apelidou dessa forma, e sugeri ao pessoal, que prontamente aceitou o vocativo. E assim, durante a viagem, eu virei a “Nana”, ou “Ju Nana”.

Roraima de Braços Abertos

“Te achei na grande América do Sul
Quero atos que me falem só de ti
E em tuas férteis terras enraizar
A semente do poeta Eliakim
Com seus versos inerentes ao amor
Aves ruflam num arribe musical...”

(Trecho da música Roraimeira, autoria de Zé Preto)


Cheguei a Roraima por volta da 1 hora da madrugada do dia 27 de dezembro de 2012, no horário de Roraima, cujos relógios marcam duas a menos que o horário de Brasília, durante o horário de verão. Direcionei-me à esteira para pegar minha mochila, e depois de fazer isso fui entrar em contato com meus anfitriões, que não identifiquei assim que atravessei o portão de desembarque.

Mas logo consegui contactá-los por telefone, e em seguida eles chegaram, os irmãos Josi e Kyury. Ambos me receberam com muito carinho e alegria, e me senti muito bem acolhida. Fomos para a casa da irmã deles, Janaína, onde eu pude descansar depois de prosearmos um pouco mais.

No dia seguinte, fomos para a casa da mãe deles, a simpática Vânia, e mesmo tão longe de casa tive a experiência de um almoço em família. Além deles, ainda tive a companhia do pequeno Iago, filho de Janaína, e da Pretinha, uma querida cachorrinha.

Durante o almoço eles me contaram um pouco da história da família, cuja origem é mineira, das viagens já feitas por Josi e Kyury, e também dos visitantes que estão acostumados a acolher, pelo intermédio do Couchsurfing. A maior parte estrangeiros, interessados em descobrir e conhecer as maravilhas naturais muitas vezes desdenhadas por nós brasileiros.

Chamou particularmente a minha atenção quando me contaram já terem recebido um rapaz inglês, que não obstante ser cego já havia visitado (sozinho!!!!) mais de 60 países. Segundo Josi, mesmo não enxergando ele fazia questão de ser levado aos pontos turísticos, para sentir o cheiro e a textura das coisas.

Eles também me orientaram quanto ao câmbio, que na fronteira era operado de uma forma diferente do câmbio oficial, que geralmente girava em torno de BSF4 para R$1,00. Na fronteira, ele podia ser trocado pelos muchachos por um valor que variava de BSF7 a 8 por R$1, o que acabava sendo vantajoso para nosotros, brasileños.

Finalizado o almoço e após uma foto de família para registrar meus queridos anfitriões, descansei um pouco e em seguida Kyury e Janaína me deixaram de carro no terminal rodoviário, para pegar o táxi-lotação rumo a Pacaraima. Foi só o tempo de ir ao caixa eletrônico tirar dinheiro, e já havia um táxi pronto para seguir viagem, depois de ter completado o número de passageiros necessário (três além de mim). Despedi-me dos amigos e parti.




Eu e minha família roraimense




Eu e Pretinha, também parte da família

Preparando a Mochila: Bolas dentro e bolas fora

Este assunto merece um post separado, dada sua importância. É importante ter em mente que a mochila (e o que estiver dentro dela) será uma das grandes fontes para suprir suas necessidades durante a expedição ao Monte: depois que você puser seus pertences na caçamba do carro e sair de Santa Elena – onde nem é tão fácil assim conseguir certas coisas simples, como eu contarei a seguir –, ou você conta com a sorte de encontrar alguém que possa te emprestar algo de que precise e não tenha, ou UM ABRAÇO!

Por outro lado, é importante lembrar que, caso você opte por não contratar um carregador e portanto resolva levar seus próprios pertences (que foi o meu caso e de meus companheiros de viagem), carregar a sua mochila nas costas durante aproximadamente 4 a 5 horas por dia, subindo pedra, descendo pedra, definitivamente não é um exercício fácil. Alguns dizem que o peso da mochila deve ser proporcional ao peso, não devendo exceder os 10% do peso da pessoa. Particularmente, acho impossível levar, para uma viagem dessas, uma mochila com menos de 10 kg. A minha continha o mínimo e estava com 11 kg.

Com base em dicas que li no Mochileiros e que algumas pessoas com quem entrei em contato me passaram, minha mochila continha os seguintes itens, que seguem abaixo separados por categoria e com os respectivos comentários:

Roupas e acessórios

2 camisas transpiráveis manga curta
1 camisa transpirável manga longa
1 casaco fleece
1 conjunto (calça e blusa) segunda pele
1 casaco corta vento
5 tops
10 calcinhas
2 biquínis
1 camiseta
1 short
2 calças de ginástica
1 calça corta vento

Comentário:

No momento de separar as roupas, não há como desconsiderar o peso, por isso a opção de ser minimalista. Não obstante a necessidade de repetir roupas, a quantidade se adequou ao período de trilha no Monte (8 dias). Como tivemos a sorte de pegar um tempo bom quase todos os dias, ainda foi possível lavar e enxugar algo. No entanto, não dá pra contar com isso todos os dias, pois a umidade é muito alta e à noite é comum chover. As calças de ginástica foram excelentes para dormir (tinha noite que usava as duas por causa do frio), e durante as trilhas deu pra alternar tranquilamente duas: a segunda pele e a corta vento.


5 pares de meias especiais para trekking (2 mais potentes e 2 mais light)

Comentário:

Se tivesse que acrescentar itens, eu o faria com as meias (separei duas para preservar secas e usar à noite), pois acabei tendo que usar as meias mais potentes úmidas alguns dias por não ter sido possível secarem.

1 par de luvas

Comentário:

Usei apenas às noites, que sempre eram frias.

1 canga

Comentário:

A canga foi uma grande mancada, pois na verdade só a levei porque na última hora me dei conta de que não estava levando toalha, e com a mochila já lotada só me restou pegar rapidinho uma canga, que é mais fina que se fosse uma toalha. Ok, deu para usá-la sem problemas durante a viagem como toalha, mas não foi o ideal, né? Alguns do meu grupo levaram toalhas absorventes de secagem rápida e estavam elogiando bem durante a viagem, então fica a dica!


1 chapéu

Comentário:

O chapéu foi uma excelente pedida para proteger o rosto do sol.

Calçados

1 par de botas especiais para trekking

Comentário:

Minhas botas da Timberland, que comprei quando fui à Patagônia, foram infalíveis. Aguentaram o tranco nas andanças e meus pés só molharam mesmo alguns dias porque, por ser desastrada, enfiei o pé na lama além da conta algumas vezes. Neste item creio ser bem importante considerar a marca: um colega do grupo estava reclamando de suas botas da Nômade, que não estavam cumprindo com a impermeabilidade prometida (e eu já havia tido problemas com a Nômade na Patagônia, por isso comprei um par Timberland), e o solado da bota de uma menina do grupo, se desprendeu no 4º dia de trilha (marca Salomon, considerada boa).


1 par de papetes



Tipo de papete que eu queria


Papete que eu usei




Comentário:

Minhas papetes não eram do tipo que eu queria, mas ajudaram bastante para descansar os pés, principalmente à noite e nas caminhadas curtas. Foi um item que eu tive muita dificuldade de achar nas lojas de produtos especializados. Acabei comprando essa da foto na Decathlon, que foram muito úteis, embora não tenha sentido firmeza para usá-las em caminhadas mais longas.

Para dormir

1 isolante inflável

Comentário:

Este item foi uma dica de um rapaz do Mochileiros, e o achei bem confortável. A única coisa que me incomodou nele foi o fato de ter que todas as manhãs passar pelo mesmo ritual de tirar o ar e dobrar pra colocar na mochila. Mesmo tendo encontrado uma boa técnica para tanto (eu o dobrava em partes pequenas e ia ajoelhando em cima, e só depois q o ar saía bem o dobrava definitivamente), pelo menos uns 10 minutos eu levava só fazendo isso. Mas é uma boa pedida!

1 saco de dormir

Comentário:

Fundamental para a noite, há dicas no Mochileiros sobre tipos e temperaturas.

Higiene/Cosmética/Proteção


1 tubinho de xampu
1 tubinho de condicionador
1 sabonete em barra

Comentário:

Mesmo tendo tido a preocupação de consegui-los de uma marca que trabalha com produtos biodegradáveis (a Forever Living), esses itens foram completamente dispensáveis na viagem ao Monte, pois não é permitido utilizá-los ao tomar banho nos rios e jacuzzis naturais. Para isso, o guia leva um sabonete especial, mas que mais parece aqueles sabões detergentes de lavar roupa. E pelo que percebi em outros grupos, todo mundo estava na mesma. Enfim, né, o jeito é se adaptar, aventura é aventura! Rs

1 tubo de pasta dental
1 desodorante
1 escova dental
1 rolo de papel higiênico
1 protetor solar
1 batom
1 protetor labial
1 gilete

Comentário:

Bem, esses itens dispensam explicação, né... só abro um parêntese para o papel higiênico, pois nessa de ser minimalista esse quase eu tirei da mochila, quando o guia falou que não precisava. Poderia até ter sido dispensado, se eu tivesse conseguido lenços umedecidos em Santa Elena, mas quando fui procurá-los antes da viagem, já tinham acabado. Então o papel higiênico, embora não fosse bom como os lenços umedecidos, acabou sendo bastante útil principalmente nas horas de fazer xixi, pois o rolo que o guia deixava disponível era para o nº 2, e também nos únicos 2 dias no topo em que não foi possível tomar banho de rio, para fazer o asseio.



1 Repelente

Comentário:

Comprei um da marca Exposis, que no Mochileiros indicaram como a melhor. De fato é muito bom, mas eu confesso não ter usado tanto por não ter curtido o cheiro. Mas recomendo não agir como uma mochileira de meia tigela feito eu, ok?

Outros Utensílios


Polchete

Comentário:

Acho que no caso de trilhas é o único momento em que seu uso é perdoável nos dias de hoje rs. Achava bem mais prático para deixar à mão as coisas que eu mais precisava durante a caminhada, como água e protetor solar.

1 lanterna

Comentário:

Esse foi outro item que quase, quase esqueci de colocar na mochila. Se tivesse acontecido, mais uma mancada! A lanterna é essencial à noite, pois não há qualquer iluminação a não ser a que cada um carrega individualmente. A minha displicência quanto à lanterna me fez escolher uma bem furrequinha, que até deu pra o gasto, mas... Bem, o pessoal estava com umas de cabeça que facilitavam bastante a locomoção, pois como os caminhos geralmente têm pedras ou buracos, é importante ter as mãos livres para se apoiar em alguma parede, caso haja. Também facilita bem na hora de ir ao banheiro, afinal, é difícil segurar uma lanterna e o papel higiênico ao mesmo tempo...

1 garrafa d’água

Comentário:

Essencial!!!

1 poncho grande

Comentário:

Seu uso acabou sendo dispensado, pois o clima estava muito bom e não pegamos chuva durante a trilha. Mas é importante leva-lo, pois de fato o tempo é muito instável e não dá pra contar com tempo bom. Ao final da trilha de subida, no terceiro dia, tem um pedaço bem grande em que se anda ao lado de uma queda d’água. Em tempo de seca, como foi o caso agora, não deu pra molhar tanto e o poncho estava até atrapalhando, tanto é que o tirei. Mas em épocas mais úmidas, pode ser bastante útil.

Itens que não levei e fizeram falta ou poderiam ter sido úteis:



Bastões de caminhada / Borracha para os bastões

Comentário:

Não ter levado bastões foi uma tremenda mancada de mochileira de meia tigela. Nos 3 primeiros dias minhas pernas estavam sobrecarregadas, pois os bastões aliviam a tensão sobre os membros inferiores e ajudam a distribuir o esforço com os braços. Minha sorte foi que duas meninas me emprestaram um de seus bastões durante o restante da caminhada. Uma das meninas do grupo também emprestou durante algum tempo uma borracha para colocar na ponta do bastão, que é bastante útil nesse tipo de caminhada, pois dá uma aderência maior ao solo. Pois é, contar com a sorte, neste caso definitivamente não foi legal!


Kit Primeiros Socorros (itens sugeridos: band-aid; água oxigenada; mertiolate ou outro similar para machucados; anti-inflamatório; gazes; algodão; esparadrapo; analgésicos e relaxantes musculares; termômetro)

Comentário:

Outra mancada federal, pois nem os guias nem os acampamentos possuem material de primeiros socorros. Dá uma sensação de vulnerabilidade e insegurança, pois as trilhas são bem pesadas e um deslize pode levar a um machucado feio, mas é a realidade lá. Minha falha foi não ter dado a devida atenção a isso e me prevenido, pois não enfrentei problemas graves, mas as poucas coisas me incomodaram bastante, que foram basicamente uma bolha cabulosa que ocupou as costas do meu pé direito, abriu e ficou em carne viva durante quase toda a viagem, e as dores musculares, que poderiam ter sido minimizadas se eu tivesse levado algum remédio. E nem sequer band-aids eu levei!!!


Bepantol

Comentário:

Algumas meninas estavam usando esse creme por segurar mais a hidratação dos lábios, que de fato ficam muito ressecados por conta do sol durante o dia e do frio à noite. Nos meus lábios se formaram 3 feridas parecidas com aftas, por conta do ressecamento.

Tesoura de cortar unha e lixa

Comentário:

Mancada federal também, até porque em trilhas as unhas ficam hiper vulneráveis a ficarem horríveis e ninguém merece ficar andando com unha suja, mesmo que no mato. Ainda bem que no 4º dia consegui pelo menos uma tesourinha emprestada para melhorar o aspecto.


Roupa e sandália para passear

Comentário:

Como eu daria prosseguimento à viagem, senti falta de uma roupinha mais normal depois, pra um momento mais descontraído no pós-trip. Um vestidinho e uma sandalinha não teriam acrescentado tanto peso.



Bem, pessoas, essas foram algumas indicações gerais, com base na minha experiência, mas como eu disse antes, consulte outras fontes, informe-se, e não aja como uma mochileira de meia tigela, feito eu rsrsrs

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Prévias Monte Roraima – deslocamento, agência e hospedagem

Considero como marco inicial da minha viagem a compra da passagem para Boa Vista, no dia 7 de novembro de 2012: ida para o dia 26/12/2012 e retorno no dia 11/12/2013. Como já havia tentado ver se alguns amigos com perfil mais aventureiro topariam ir comigo mas não havia dado certo, já sabia que iria sozinha, então teria que procurar a forma que seria a mais segura e que oferecesse as melhores condições de preço e serviços.

Não é possível fazer a expedição ao Monte Roraima sem guia. Em linhas gerais, as principais opções, que oferecem uma variabilidade quanto ao preço e os serviços, são:

1- contratar uma agência no Brasil ou na Venezuela – no Brasil a única da qual tomei conhecimento que faz o passeio é a Roraima Adventures, mas o valor é bem superior ao das agências venezuelanas.
2- Contratar um guia local, sem intermédio de agências – neste caso é possível contratá-lo junto com carregadores para fazer o serviço completo, de montar as barracas, preparar a alimentação etc, ou somente contratá-lo e levar e preparar tudo, desde as barracas até a alimentação.

Como iria sozinha, nem cogitei outra opção que não fosse contratar uma agência. A questão era apenas pesquisar as mais indicadas nos sites de viajantes, tendo sido minha principal fonte o Mochileiros, onde li alguns relatos e entrei em contato dois viajantes que já haviam ido para lá para pegar algumas dicas.

Inicialmente consultei três agências: a Roraima Adventures, a Adrenaline Expeditions e a Backpackers. Uma coisa que me incomodou muito nas três foi o fato de custarem muito a responder os e-mails e dar informações detalhadas. Aí entrei novamente no Mochileiros e entrei em contato com um rapaz que estava programando a viagem para lá no mesmo período que eu. Ele me indicou a agência que estava contratando, a Kamadac, que segundo ele constava como uma das indicadas no seu guia de viagens.

Entrei em contato com a referida agência e de fato foram bem ágeis nas respostas, o que me passou uma segurança maior. Acabei fechando com a Kamadac o trekking para o Monte de 8 dias, com 3 noites no topo, pelo valor de R$1.030. Como finalizaria no dia 4 de janeiro e ainda tinha alguns dias, queria ainda fazer um passeio e pensei em Salto Angel, que é a mais alta queda d’água do mundo, mas o Andreas, da Kamadac, me informou que seria melhor confirmar a possibilidade do passeio quando já estivesse em Santa Elena, pois como era período de seca o baixo nível de água dos rios talvez não permitisse chegar até lá.

E foi o que eu fiz!!!

Boa Vista – Santa Elena: eu vou de táxi-lotação, eu vou...

Quanto ao deslocamento, ainda precisava definir como chegaria ao ponto de partida para o trekking: a cidade de Santa Elena de Uiarén, na Venezuela. Cheguei a cogitar tentar dividir o táxi com o rapaz do Rio que iria na mesma época que eu, com quem cheguei a entrar novamente em contato, mas não seria possível porque ele já estaria com outros amigos.

Aí, graças à orientação que recebi dos amigos do Couchsurfing que iriam me receber em Boa Vista (sobre os quais falarei em seguida), descobri que na capital roraimense é possível pegar um táxi lotação que leva até Pacaraima, município de Roraima que faz fronteira com a Venezuela, no valor de R$25, e em seguida pegar outro para Santa Elena, no valor de BSF 100, o que, pelo câmbio de R$7.6 da época, dava aproximadamente uns R$13.

No início fiquei um pouco insegura, principalmente por ser mulher e estar sozinha, mas me disseram que os táxis são regulamentados e seguros. Na verdade o valor fica em R$25 por pessoa porque eles esperam lotar o veículo para sair, mas isso não é difícil, pois sempre tem gente indo para Pacaraima, ou para Santa Elena.

Couchsurfing: surfando em sofá macuxi*

Eu havia me cadastrado no Couchsurfing em maio de 2012. Para quem não conhece, trata-se uma rede de relacionamentos que aproxima pessoas que gostam de viajar. O nome “couch surfing”, que em português significa “surfando no sofá” reflete justamente essa ideia, de oferecer aos viajantes a possibilidade de se hospedar (ou, se preferir, surfar no sofá) de pessoas que residam no seu destino de viagem.

Até a viagem para Boa Vista, minhas únicas experiências de interação mediante o Couchsurfing haviam sido um encontro do pessoal de Brasília e algumas tentativas de hospedar alguns viajantes que estavam procurando um sofá na capital federal. No entanto, creio que uma das primeiras dificuldades de quem está entrando no site é justamente a falta de referências, pois geralmente as pessoas contactam para se hospedar pessoas que já têm referências de outros couchsurfers (o que é muito lógico, diga-se de passagem).

Mas um bom ponto positivo para quem ainda é novo e não tem referências é, por exemplo, o Facebook, que pode ser uma boa fonte de consulta para um potencial hóspede ou anfitrião. E foi mesmo graças ao FB que pude transmitir mais informações e maior confiabilidade aos amigos que aceitaram me receber em Boa Vista.

Entrei em contato inicialmente com o couchsurfer Kyury, que me adicionou no FB e me pôs em contato com sua irmã Josi. Eu e ela começamos a conversar pelo chat do Face e aos poucos fomos conquistando a amizade uma da outra. Eu passaria uma noite em Boa Vista antes do passeio na Venezuela, e mais um ou dois dias na volta. Tudo acertado, vamos em frente: preparar a mochila!!!

*Macuxi é uma das etnias indígenas que habitam Roraima, mas não é que eu tenha literalmente me hospedado em uma família macuxi. Foi apenas uma alusão a um dos elementos que integram a grande teia de retalhos culturais que é esse estado.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Monte Roraima: Introdução a um Relato



Viajar é uma experiência cercada de magia. Você pesquisa na internet sobre os lugares que deseja conhecer, entra em contato com pessoas que já os visitaram, pede dicas, tira dúvidas. Mas nada se compara ao momento em que adentra o portão de embarque, dá o último abraço em quem foi te levar, e finalmente percebe que a viagem está se tornando realidade.

Aí você espera aquelas horas que parecem eternas, o avião pousa e aos poucos tudo o que fazia parte apenas da imaginação vai se materializando diante dos seus olhos. Mais do que isso: os cheiros, sons, cores, texturas, vão te envolvendo a cada lugar visitado, a cada passo dado em solo estranho, a cada nova pessoa que quebra o gelo do estranhamento com um sorriso, ainda que tímido.

A viagem pela Venezuela foi uma experiência muito especial. O primeiro motivo foi o seu grande objetivo, que desde o início não era a Venezuela em si, mas sim subir o Monte Roraima. Como já relatado em post anterior, desde 2008, quando estive a trabalho em Roraima, e soube da existência daquele majestoso platô, que alimentava o desejo de conhecê-lo. Só que, apesar do nome, o ponto de partida das expedições para chegar a ele é a pequena cidade de Santa Elena de Uiarén, no estado venezuelano de Bolívar, fronteira com o Brasil.

O segundo motivo é que foi a primeira viagem maior que fiz sozinha. Já havia viajado outras vezes sozinha, mas no máximo em períodos de feriado de quatro dias. E quando digo sozinha, não é que necessariamente a realizaria completamente sozinha durante todo o percurso. A questão é que todas as pessoas com as quais eu iria conviver seriam pessoas que eu viria a conhecer durante a viagem, não tendo conhecimento prévio de nenhuma delas.

Foi muito interessante observar o estranhamento das pessoas sobre isso, antes e durante, que se intensificava pelo fato de a viagem pegar justamente o dia do Reveillón. De forma mais evidente ou subliminar, quase todos com quem compartilhei minha empreitada consideravam no mínimo esquisito uma pessoa optar por passar essa data com desconhecidos. Mais esquisito ainda (seria ingenuidade minha não supor), em se tratando de uma mulher. Algumas que conheci durante a viagem diziam me considerar corajosa por decidir fazer uma viagem daquele tipo sozinha.

Sobre o fato de viajar sozinha, sempre naturalizei a solidão. Amo estar com pessoas, dividir momentos, mas quando estou só também vivencio cada momento em plenitude, até mesmo porque acredito que nunca estamos completamente sós. Se não tenho ninguém conhecido ou familiar por perto, simplesmente deixo fluir o impulso humano tão natural do relacionar-se, e me mantenho aberta para criar laços com quem se dispuser a me deixar entrar em sua vida, seja de forma passageira, ou mais duradoura.

Nessa viagem especificamente, no entanto, foi um desafio particular viajar sozinha, principalmente pelos obstáculos de ordem física que encontrei. A verdade é que, no impulso de realizar um sonho, o que imaginava ser possível desde que algumas condições, principalmente de ordem financeira, se configurassem, não dei a devida atenção à preparação física necessária para vencer o desafio.

Não que eu estivesse sedentária – pelo contrário, vinha cumprindo uma rotina de ir à academia de 4 a 6 vezes por semana – mas talvez pela escolha não muito adequada dos exercícios, pelo menos para o nível das trilhas que eu enfrentaria, ou pelo tempo que talvez não fosse o suficiente, ou mesmo pela própria singularidade do meu corpo (na verdade, embora não estivesse sedentária, nunca tive um histórico de ser muito assídua em atividades físicas, e talvez isso influencie de alguma forma), confesso que para mim foi EXTREMAMENTE DIFÍCIL realizar o sonho de conhecer o Monte Roraima.

Não digo isso para desanimar aqueles que estão iniciando no universo dos trekkings e que especificamente têm o mesmo desejo que eu tinha, de conhecer esse lugar mágico. É exatamente o oposto: se tem esse desejo, siga firme, mas não subestime o desafio. Dimensione bem suas limitações e trabalhe firme para minorá-las, pois a preguiça prévia não necessariamente tem um preço impossível de se pagar, mas pode te privar de aproveitar de forma mais plena a sua experiência. No entanto, tenha a certeza de que, independente do que ocorrer, dependerá em grande parte de VOCÊ torná-la uma experiência mágica e inesquecível!

Só para fechar essa introdução, digo que esse relato também se trata de uma experiência piloto minha de relato de viagem, e está sendo impulsionada tanto pelo desejo de incentivar ou ajudar outras pessoas, quanto pelo gosto de escrever, que há muito não movimento. Não tem uma forma pré-concebida, mas esclareço que trará muito de minhas impressões e da minha visão de mundo sobre tudo o que vivi, pois é a forma como gosto de escrever.

Se você quiser obter dicas ou informações gerais para sua viagem de forma mais objetiva, portanto, vá direto ao post xxxx, que redigi justamente pensando naqueles que têm o intuito de subir o Monte Roraima nas mesmas condições que eu ou em condições parecidas e querem obter mais detalhes de quem já esteve lá. Claro que o recorte também será aquilo que eu vivenciei e o que considerei importante destacar, por isso minha maior dica é: leia, pesquise, informe-se, nas mais variadas fontes!